quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Estudantes cristãos são atacados com facões

NIGÉRIA - Um policial foi morto e dois adolescentes cristãos ficaram feridos na cidade de Sumaila, no Estado de Kano, na sexta-feira dia 8 de fevereiro, quando estudantes muçulmanos romperam em ira e acusaram estudantes cristãos de escreverem um artigo blasfemando contra o profeta islâmico Maomé.

O inspetor Jibrin Garba, que também era cristão, foi morto em um posto policial após o ataque a uma escola pública secundária em Sumalia.

Um dos jovens que foi esfaqueado, Ahmadu Inuwa, disse que o aluno cristão acusado, Ashiru Danlami, não poderia ter escrito o artigo, uma vez que não sabia quase falar inglês, muito menos escrever. Ahmadu diz que as autoridades certificaram-se deste fato.
O Reverendo Samaila Kogo, da Igreja Evangélica da África Ocidental (ECWA, em inglês), de Sumaila, disse ao Compass que suas investigações mostraram que os estudantes muçulmanos escreveram e publicaram o artigo com o pretexto de atacar os estudantes cristãos. Ele diz que essa estratégia é usada em muitos lugares na Nigéria para forçar a expulsão dos estudantes cristãos.

"As autoridades da escola investigaram as acusações dos estudantes muçulmanos e chegaram à conclusão de que Ashiru não era culpado, mas por causa do desejo das autoridades de manter a paz, Ashiru foi expulso apenas para agradar aos alunos muçulmanos", disse o reverendo ao Compass.

O Reverendo Sumaila disse que Ashiru fora suspenso da escola como uma tentativa de fazer com que o plano de ataque aos alunos cristãos não fosse levado a cabo, mas isso não aconteceu. Ao contrário, o plano recebeu apoio dos muçulmanos locais.

Ataque executado

"Apesar de Ashiru ter sido suspenso, o plano de atacar os estudantes cristãos foi executado e os forçou a fugirem da escola", disse o reverendo. "Foi então que as autoridades da escola e a polícia se encontraram e resolveram assegurar que os alunos pudessem voltar às aulas em segurança".

Apesar da promessa de que nada os aconteceria, apenas dois dos 57 cristãos ousaram voltar à escola. Ahmadu e Isiaku Dogo - alunos do último ano que se formariam em poucos meses - sentiram que precisavam ir à escola para se prepararem para as provas finais. Estudantes muçulmanos os atacaram com facas e facões.

Fontes cristãs relataram que após ferirem os dois estudantes, os alunos muçulmanos foram até a delegacia de polícia da cidade, mataram um policial cristão e incendiaram o local.

Este foi o segundo incidente ocorrido em menos de três meses. Durante as eleições do conselho local, em novembro último, muçulmanos atacaram cristãos na cidade de Gani, na área do conselho governamental local da Sumaila, e mataram uma pessoa porque um candidato cristão concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados pela primeira vez.

Vítima Advertida

O Reverendo Murtala Marti Dangora, secretário da Associação Cristã da Nigéria (CAN, em inglês), do Estado de Kano, disse que o Escritório da Divisão Policial (DPO, em inglês) de Sumaila avisara a CAN que a polícia tinha avisado à escola para suspender Ashiru como uma medida preventiva, mesmo sabendo que ele não havia escrito o artigo que continha a blasfêmia.

"O DPO nos disse que aconselhou que a escola suspendesse o aluno cristão por razões de segurança, mas isso não queria dizer que o aluno tivesse realmente cometido o crime de blasfêmia", disse o Reverendo Murtala. "O DPO disse que aquilo era para evitar que o usassem como desculpa para outro ataque a alunos cristãos".

As autoridades escolares concluíram que estudantes muçulmanos foram responsáveis pelo artigo para que pudessem ter uma justificativa para atacar os cristãos, ele disse. Então, na quinta-feira, dia 7 de fevereiro o diretor Alhaji Shehu Umar se dirigiu aos alunos muçulmanos e pediu que eles aprendessem a viver em paz com os cristãos.

O pedido não foi recebido muito bem pelos alunos muçulmanos, diz o reverendo, porque eles suspeitaram que o diretor estivesse tentando frustrar o plano que eles tinham de atacar os cristãos.

Inocente

De acordo com Ahmadu, muçulmanos da escola e da cidade pressionaram para que Ashiru fosse suspenso indefinidamente como punição, apesar das autoridades da escola terem chegado à conclusão de que o jovem era inocente.

A carta de suspensão de Ashiru, recebida por seus pais, não apresentava o motivo real que era de enfraquecer a tensão com os muçulmanos.

"Viemos por meio desta, comunicar a suspensão por tempo indefinido de Ashiru Danlami por ter violado as regras e os regulamentos da escola depois de tê-lo advertido por diversas vezes", declarava a carta. "O aluno deverá vir à escola acompanhado dos pais ou responsáveis para mais esclarecimentos na data acima, impreterivelmente".

A carta não diz a data em que Ashiru deverá ir à escola com os pais. Está assinada pelo vice-diretor em nome do comitê de disciplina.

Estratégia para prejudicar educação

O Rev. Murtala concorda com o Rev. Sumaila de que há muito não é segredo de que as acusações de blasfêmia contra Maomé se tornaram uma tática dos alunos muçulmanos e apoiadores islâmicos do norte da Nigéria para expulsar os alunos cristãos das escolas públicas. O reverendo citou vários ataques do mesmo tipo em várias escolas no Estado.

"A mesma história foi usada na escola pública secundária Gwarzo, onde alunos cristãos foram atacados e expulsos à força em outubro do ano passado", disse o Rev. Murtala. "Eles também usaram a mesma estratégia na escola Kura, há três anos, e na faculdade pública Tudum Wada Dankadai, no ano passado, e agora está acontecendo na escola Sumaila".

O reverendo diz que não há mais alunos cristãos nessas escolas. "Essa é sem dúvida a estratégia que está sendo usada pelo governo do Estado de Kano para manter as crianças cristãs fora das escolas públicas", acrescentou o Rev. Murtala.

Ele diz também que a tática de manter os cristãos fora da escola traria muito prejuízo uma vez que muitos deles são pobres e dependem da escola pública para educar seus filhos. O reverendo apelou para que o governo nigeriano salvasse os alunos cristãos da extinção e de terem a educação, que é a coisa mais importante para seu bem-estar, negada.

Fonte: Portas Abertas

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